A Comunidade
dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) segue com "alguma preocupação"
a situação na Guiné-Bissau, um dos seus nove Estados-membros e aquele que
deverá assumir a presidência rotativa em 2025, disse o seu secretário
executivo.
"Seguimos com
alguma preocupação os desenvolvimentos na Guiné-Bissau, mas constitui um
princípio fundamental da CPLP não interferir nos assuntos internos de cada
Estado-membro", afirmou Zacarias da Costa, numa entrevista à Lusa em
Lisboa, a propósito dos seus três anos como secretário executivo da
organização.
"[Porém],
temos a certeza que os guineenses saberão como sair desta situação menos boa.
As eleições já foram anunciadas pelo Presidente da República, para o dia 24 de
novembro, e naturalmente esperamos que tudo corra com normalidade", disse.
O que conta neste
momento para o secretariado executivo é que há uma decisão da última Cimeira de
Chefes de Estado e de Governo, que decorreu em 2023 em São Tomé e Príncipe, que
o próximo encontro formal de alto nível da organização será na Guiné-Bissau, e
que até já tem datas.
"De 14 a 18 de
julho decorrerão todas as reuniões, portanto será a 18 a Cimeira, a 17 o
Conselho de Ministros, a 16 o Comité de Concertação Permanente [reunião dos
embaixadores representantes dos Estados-membros em Lisboa] e antes as reuniões
dos pontos focais da cooperação", salientou.
Mas, quando
questionado se essa decisão poderia ou não alterar-se, caso as eleições no país
não corram como esperado e o cenário político da Guiné-Bissau não melhore,
Zacarias da Costa respondeu: "obviamente também esperamos que a situação
se normalize, para que o país possa assumir a presidência da organização para o
biénio 2025-2027".
Contudo, sublinhou
que "reverter a decisão ou não" compete aos Estados-membros,
salientando ter "a certeza que os Chefes de Estado e de Governo irão
acompanhar a situação com muita atenção".
Neste momento, o
que há é "uma decisão, uma data e um compromisso de um país, e não de um
Presidente ou de um primeiro-ministro, para receber a cimeira em 2025 (...) e
também para dirigir a organização no biénio 2025-2027", reiterou.
Sobre o encontro
informal de Chefes de Estado e de Governo da CPLP, em Nova Iorque, que decorreu
na semana passada, à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas e que,
segundo algumas fontes, poderia debater a questão da futura presidência da
organização, Zacarias da Costa realçou que se tratou de "uma reunião
informal", que "não lhe retira a validade e a importância"
porque discutiu questões importantes, tendo em conta a conjuntura global.
O Presidente
guineense, Umaro Sissoco Embaló, marcou eleições legislativas antecipadas para
o próximo dia 24 de novembro, depois de ter dissolvido o parlamento, em
dezembro de 2023, fora dos prazos constitucionais, e formou um Governo de
iniciativa presidencial.
Além da
Guiné-Bissau, a CPLP tem como Estados-membros Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné
Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
Quanto às críticas
que são frequentemente dirigidas à organização por não se pronunciar sobre
questões de direitos humanos ou mesmo de funcionamento das instituições
democráticas dos seus Estados-membros que não estão em conformidade com os
princípios defendidos pela CPLP, o secretário executivo considerou que "o
importante" é que os países da comunidade trabalhem "conjuntamente
para reforçar os mecanismos internacionais", porque "a CPLP não pode
substituir-se às autoridades de cada país".
Para Zacarias da
Costa, há muitas vezes a ideia de que a CPLP pode solucionar "todos os
males" de cada país, mas o contrário é que deve acontecer, ou seja,
"os governos de cada país devem primeiro solucionar os seus
problemas" e, no conjunto da comunidade, ser encontrada "uma atuação
conjunta, concertada para os problemas de todos".
Na sua opinião,
"tem havido" cada vez mais esse esforço, mas, nos três anos em que
está como secretário executivo, houve eleições em quase todos os noves
Estados-membros, "o que implica um diálogo contínuo e um alinhamento de
estratégias com as novas autoridades de cada país".
Segundo Zacarias da
Costa, em simultâneo tem havido também um esforço da organização para ratificar
e pôr em prática acordos já celebrados pelos Estados-membros.
"Estamos a
trabalhar para que os Estados-membros, ou pelo menos um número razoável, possa
ratificar a convenção multilateral da Segurança Social", até agora só
ratificada por Portugal e Timor-Leste.
"Precisamos de
mais um Estado-membro para que possa entrar em vigor", frisou
por Lusa
