Na pequena e isolada ilha de Annobón, uma tragédia
humanitária se repete dia após dia, mas poucos a ouvem. Em 10 de outubro de
2024, Clotilde Nena Morgades, carinhosamente conhecida como "Máteleza", juntou-se
às intermináveis vítimas de um sistema implacável que condenou seu povo ao
sofrimento. Clotilde, mãe, esposa e trabalhadora incansável de 61 anos,
perdeu a vida em um cenário que reflete o destino cruel e silencioso de toda
uma ilha: a absoluta falta de assistência médica.
Depois de vários anos lutando contra doenças e tendo sido
diagnosticada com diabetes em Malabo, capital da Guiné Equatorial, Clotilde sabia
que, para ter acesso a uma pílula simples, ela tinha que fazer uma viagem cara
e longa até o continente. Em um país sem serviços de saúde, onde o acesso à
saúde é comprado com somas inatingíveis, a doença é uma sentença de morte para
os habitantes de Annobón. E assim foi para ela.
Em 10 de outubro, Clotilde sentiu uma dor aguda
enquanto trabalhava em sua pequena fazenda em Mábana, no sul da ilha. Sem
opções, seu marido a levantou em uma canoa e remou desesperadamente por três
longas horas até que ela chegasse à capital, Palé. No entanto, o pequeno
dispensário da ilha não tinha insulina ou medicamentos básicos para tratá-la.
Nos braços da sua família e perante o desamparo de todos, morreu sem receber um
único tratamento, vítima não só da diabetes, mas também do abandono sistemático
e premeditado da ditadura de Teodoro Obiang Nguema Mbasogo.
Annobón, uma ilha esquecida e excluída, é o epicentro de um
genocídio lento e silencioso que já dura mais de 56 anos. Isolados, sem
eletricidade, sem água potável, sem escolas ou hospitais em funcionamento, seus
habitantes são forçados à miséria em uma tentativa implacável de apagar sua
existência. Obiang, o ditador mais antigo do mundo, com mão de ferro,
continua a impor um sistema colonial interno da longínqua Guiné Equatorial,
garantindo que Annobón fique preso na pobreza extrema, com uma presença militar
excessiva que sufoca seus habitantes com abusos constantes. Em uma ilha que
deveria ser um paraíso tropical, a vida cotidiana se tornou um inferno sob
ocupação militar por quatrocentos soldados, muitos deles envolvidos em
pilhagem, agressão sexual e humilhação cultural diária.
Os Annobonese, um povo pacífico com uma rica história e
cultura, são vítimas de um extermínio programado. O controle econômico é
absoluto; Sem oportunidades de emprego ou acesso a recursos, a ilha foi
propositalmente empobrecida para forçar a migração de seus habitantes e apagar
sua identidade. O governo da Guiné Equatorial, longe de garantir direitos
básicos, usa a fome e a pobreza como armas de opressão. O drama de Clotilde
Nena Morgades, que morreu na miséria por causa de uma simples dose de insulina,
é o mais recente lembrete dessa realidade insuportável.
"Mate-o."
Annobón não pode esperar mais. A cada dia que passa, uma
nova vida é perdida, uma nova família é dilacerada e a cultura de um povo
antigo continua ameaçada de extinção. O caso de Clotilde é apenas um
entre milhares, mas não pode ser esquecido.
O mundo não pode continuar a ser cúmplice do silêncio. A
independência de Annobón não é apenas uma opção política, é a única forma de
sobrevivência de um povo que clama por sua dignidade e liberdade. Libertar
Annobón da tirania e do colonialismo interno da Guiné Equatorial não é apenas
um ato de justiça, é um imperativo moral. A comunidade internacional deve
intervir e apoiar a autodeterminação da ilha antes que seja tarde demais.
Independência é liberdade, é Ambô Legadu. A ilha de Annobón
clama por justiça. Que o mundo ouça seu chamado antes que ele se perca no
esquecimento para sempre.
por Pale Press
