O primeiro-ministro são-tomense considerou hoje um
"marco importante" e um "momento histórico" a transição do
arquipélago para país de rendimento médio declarada oficialmente na sexta-feira
pelas Nações Unidas, que reconheceu os esforços das autoridades locais.
"É com profundo orgulho e um sentido de
responsabilidade que hoje partilhamos um marco importante na trajetória de São
Tomé e Príncipe, que é a graduação do nosso país do grupo de países menos
avançados para o estatuto de país de renda média. É o reconhecimento do
progresso que alcançámos ao longo dos anos, fruto do esforço coletivo de todos
os são-tomenses e das parcerias sólidas que cultivamos com a comunidade
internacional", declarou Patrice Trovoada.
"Esse momento é para nós todos histórico, é o momento
em que os indicadores e as metas internacionalmente definidas foram alcançadas
pelo nosso país para deixarmos de ser considerados como um país menos
avançado", acrescentou o chefe do Governo são-tomense, afirmando que vê
"essa graduação de forma realística" e salientando que "ainda há
muito a fazer".
Para Patrice Trovoada, "qualquer avanço, pequeno ou
maior, simboliza o trabalho, o progresso e a dedicação de toda uma nação e
demonstra avanços, mesmo que ainda muito modestos".
"No entanto, não devemos permanecer na nossa zona de
conforto. Devemos continuar a trabalhar, reformar, organizar e planear",
declarou.
O primeiro-ministro são-tomense disse que "esta mudança
de categoria representa, sobretudo, a resiliência de um povo que, apesar de
limitações e desafios, nunca perdeu a esperança de construir um futuro mais
próximo".
"Este novo marco exige de nós prudência, consistência e
estratégia. A graduação para o estatuto de País de Renda Média, embora seja um
sinal de progresso, também traz consigo novas responsabilidades e desafios que
devemos encarar com maturidade e determinação", afirmou o chefe do governo
são-tomense.
Patrice Trovoada realçou que o país terá "menos acesso
a apoios tradicionais, concessionais, que até agora eram habituais", o que
significa ter de "lidar com formas novas de financiamento, criativas,
sustentáveis, mais disponíveis para atrair investimento, competir com outras
economias" e financiar o desenvolvimento "sem comprometer a
estabilidade económica e social".
"Ao darmos prioridade à proteção ambiental e à
diversificação económica, reforçando as parcerias público-privadas nos setores
estratégicos como a tecnologia, o turismo, a economia azul, as energias
renováveis e o capital humano, estaremos a construir, certamente, uma base
sólida para um crescimento sustentável e resiliente".
Trovoada afirmou que "este novo estatuto deve ser um
passo em frente na redução das desigualdades que ainda persistem",
sublinhando que "as melhorias dos indicadores macroeconómicos, só por si,
não fazem sentido se não podem traduzir-se em maior justiça social e em
benefícios concretos para todos os são-tomenses, especialmente para as
comunidades mais vulneráveis".
"O sucesso no novo contexto dependerá da nossa
capacidade de gerir recursos com transparência, eficácia e responsabilidade.
Uma governação sólida e estável, marcada por escolhas acertadas e visão
estratégica, será o alicerce para assegurar a confiança do povo e dos parceiros
internacionais", disse Patrice Trovoada.
Na sexta-feira a ONU anunciou que "São Tomé e Príncipe
deixou oficialmente de integrar a categoria de Países Menos
Desenvolvidos", referindo que esse marco assinala "uma conquista
significativa na jornada de desenvolvimento".
Segundo uma publicação no site da ONU, o anúncio foi feito
em Nova Iorque pelo Escritório da alta representante para os Países Menos
Desenvolvidos, Países em Desenvolvimento Sem Litoral e Pequenos Estados-ilha em
Desenvolvimento.
A entidade da ONU reconhece os "esforços sustentados
das autoridades são-tomenses para alcançar um crescimento económico robusto,
aprimorar o desenvolvimento humano e melhorar a resiliência contra
vulnerabilidades", lê-se na publicação.
A recomendação para a graduação de São Tomé e Príncipe
aconteceu após o cumprimento dos critérios baseados no rendimento per capita,
ativos humanos e índices de vulnerabilidade económica e ambiental,
destacando-se a expansão da cobertura universal de saúde de 47% em 2010 para
59% até 2021 e a classificação em 11.º lugar entre 54 nações africanas no
Índice Ibrahim de Governança Africana de 2021.
A ONU refere que "os atuais obstáculos à economia
são-tomense incluem dificuldades fiscais, marcados por uma inflação que chegou
a 17% em 2023" e ainda "o aumento da dívida pública".
A graduação de São Tomé e Príncipe para país de rendimento
médio acontece numa altura em que o arquipélago continua sem acordo de crédito
alargado com o Fundo Monetário Internacional (FMI), apesar do acordo técnico
anunciado em novembro após dois anos de negociações.
Lusa
