Depois de ter
pedido uma "governação mais responsável e mais presente", Carlos Vila
Nova justifica a decisão acusando o Governo de "manifesta deslealdade
institucional"
O Presidente
são-tomense demitiu hoje o Governo liderado pelo primeiro-ministro, Patrice
Trovoada, por "assinalável incapacidade" de solucionar os
"inúmeros desafios" do país e "manifesta deslealdade
institucional", lê-se no decreto presidencial.
O chefe de Estado,
que reuniu horas antes o Conselho de Estado, fundamenta a decisão, "tendo
em atenção o contexto interno de São Tomé e Príncipe, caracterizado,
presentemente, por inúmeros desafios, particularmente económicos e financeiros
e a sua repercussão social, e considerando que a actuação do Governo tem sido
marcada por uma assinalável incapacidade em aportar soluções atendíveis e
compatíveis com o grau de problemas existentes".
A isto,
acrescentam-se "períodos frequentes prolongados de ausência do primeiro-ministro
e chefe do Governo do território nacional sem que disso resultem ganhos
visíveis para o Estado e para o povo são-tomenses, e se traduzem, pelo
contrário, em despesas injustificáveis para o erário público".
Carlos Vila Nova
salientou ainda "a falta, por parte do primeiro-ministro, de uma clara
cooperação estratégica e uma manifesta deslealdade institucional, fatores que
vêm entorpecendo a relação institucional que deve existir entre o Presidente da
República e o Governo, através do primeiro-ministro".
O Presidente da
República decretou que "é demitido o XVIII Governo Constitucional", e
que "o Partido Ação Democrática Independente (ADI), enquanto partido
político mais votado nas últimas eleições legislativas" é "convidado
a apresentar, no prazo de 72 horas, outra individualidade para assumir o cargo
de primeiro- ministro e chefe do Governo".
"O presente
decreto presidencial entra imediatamente em vigor", lê-se no documento.
No discurso à
Nação, no final do ano, Carlos Vila Nova, já tinha pedido uma "governação
mais responsável e mais presente", afirmando que os desafios dos anos
anteriores continuam "quase todos sem solução" e o povo enfrentou
"dificuldades significativas" em 2024, que foi um "ano
difícil".
Sem se referir ao
primeiro-ministro, Patrice Trovoada, que tem sido criticado pelas múltiplas
viagens que tem feito desde que assumiu a governação, em 2022, passando por
vezes quase um mês no exterior, o Presidente disse que "os ingentes
problemas com que o país se debate não são compatíveis com uma governação feita
muitas vezes à distância, que descura uma visão estratégica, holística e bem
delineada das decisões que se impõe adotar".
O chefe de Estado,
sublinhou que, "por muito bons que sejam os marinheiros, nada justifica
que o comandante do barco se arrogue o direito de se ausentar deste durante um
lapso temporal que excede metade da jornada".
A tensão entre o
Presidente e o primeiro-ministro, da mesma família política, a Ação Democrática
Independente (ADI), aguidizou-se na reta final do ano, quando o Governo aprovou
o aumento das taxas aeroportuárias para 200 euros através de uma resolução,
ultrapassando um veto político do chefe de Estado, que prometeu estar a
trabalhar para anular o diploma.
O Conselho de
Estado de hoje, que durou mais de três horas, é a primeira reunião do Conselho
de Estado do ano convocada pelo Presidente e a segunda desde que assumiu as
funções, em 2021.
A reunião que
contou com a presença da Presidente da Assembleia Nacional, do
primeiro-ministro, do presidente do Tribunal Constitucional, do
procurador-geral da República, o ex-Presidente da República, Miguel Trovoada, e
outros conselheiros.
Pelas ausências,
destacam-se os dois ex-chefes de Estado Manuel Pinto da Costa e Fradique de
Menezes e o presidente do Governo Regional do Príncipe.
Lusa
