Primeiro-ministro são-tomense anunciou hoje que o seu
partido recorreu para o Tribunal Constitucional contra a demissão do Governo
decretada pelo Presidente, alegando que a decisão viola a Constituição.
"Nesse caso, bastante grave, o (...) Presidente (...)
violou a Constituição. Por isso, o partido que sustenta o Governo [Ação
Democrática Independente (ADI)] introduziu um requerimento ao Tribunal
Constitucional com vista à anulação dessa decisão que viola a
Constituição", declarou Patrice Trovoada, demitido das funções na
segunda-feira (06.01).
"Pedimos que o Tribunal Constitucional se pronuncie com
urgência, porque é uma situação grave e (...) porque, repito, no nosso
entender, tratou-se de uma demissão movida por interesse político, questões
inconfessáveis, mas que não são aquelas que são relevantes, conforme rege a
Constituição", acrescentou.
Em conferência de imprensa, na sede do Governo, na presença
de todos os ministros, Patrice Trovoada fundamentou que a decisão não está
de acordo com o artigo 117.º da Constituição, que estabelece que "o Presidente
da República só pode demitir o Governo quando tal se torne necessário para
assegurar o regular funcionamento das instituições democráticas, ouvido o
Conselho de Estado".
Patrice Trovoada revelou que foi comunicado que seria
demitido, por mensagem escrita, na manhã de segunda-feira, antes de o
Presidente ter ouvido o Conselho de Estado, e que, durante o Conselho de
Estado, Carlos Vila Nova "não fez a demonstração que havia um problema de
disfuncionamento no regular funcionamento das instituições democráticas".
Patrice Trovoada acrescentou que "nenhum conselheiro
pronunciou-se a favor da demissão do Governo", embora não seja uma questão
obrigatória.
Despreocupado
O primeiro-ministro demissionário apontou indicadores
económicos e perspetivas, nomeadamente a redução da
inflação, estabilidade energética, confiança de parceiros internacionais
com promessas de donativos e investimentos, e ainda o recente acordo com o
Fundo Monetário Internacional, contrariando a avaliação negativa feita pelo
Presidente que acusou o Governo de incapacidade para solucionar os
desafios do país.
"Eu estou, de certa maneira, triste e frustrado. Mais
uma vez, vamos perder tempo. Mais uma vez, vamos recuar. Mais uma vez, vamos
ter que recomeçar, sem que haja uma razão séria para tal", disse Patrice
Trovoada, admitindo "uma quota de responsabilidade" na crise.
O também líder da ADI, que tem 30 deputados e um acordo
com a terceira força política com mais cinco deputados no parlamento,
desvalorizou o decreto presidencial, e descartou, para já, a indicação de nova
figura para o substituir na chefia do Governo.
"Para quem desencadeia uma crise, exigir 72 horas... eu
acho que o Presidente da República tem um plano. Tem um plano e está a
desenrolar o seu plano. Mas o país tem regras, tem leis, e tem forças
políticas, e tem opiniões, e tem população. Por isso, eu não estou muito
preocupado com isso. Como eu disse, é muito fácil criar uma crise, mais difícil
é resolver a crise", declarou.
Demissão do Governo
Na segunda-feira, o Presidente são-tomense, Carlos Vila Nova
demitiu o Governo liderado pelo primeiro-ministro por "assinalável
incapacidade" de solucionar os "inúmeros desafios" do país e
"manifesta deslealdade institucional", lê-se no decreto presidencial.
A isto, acrescentam-se, segundo o chefe de Estado,
"períodos frequentes prolongados de ausência do primeiro-ministro (...) do
território nacional sem que disso resultem ganhos visíveis para o Estado e para
o povo são-tomenses, e se traduzem, pelo contrário, em despesas injustificáveis
para o erário público", assinalou.
Carlos Vila Nova salientou ainda "a falta, por parte do
primeiro-ministro, de uma clara cooperação estratégica e uma manifesta
deslealdade institucional, fatores que vêm entorpecendo a relação institucional
que deve existir entre o Presidente da República e o Governo, através do
primeiro-ministro".
Lusa
