Cerca de 40% dos mais de 300 reclusos na única prisão de São
Tomé são condenados ou acusados por crimes sexuais, disse à Lusa a diretora dos
serviços prisionais, que admitiu que a situação "é preocupante" e
exige estudo.
A diretora dos Serviços Prisionais e Reinserção Social
(SPRS) disse que, durante muito tempo, o furto foi o crime com maior número de
reclusos, mas desde 2024 que a maioria dos condenados e alguns dos presos preventivos
estão naquele estabelecimento pela prática de crimes de abuso sexual e
violação, seguido de furto, violência doméstica, abuso de confiança, burla,
ofensas corporais e homicídio.
"Uma percentagem de quase 40% para nós é bastante, para
o número de existência da população prisional, comparativamente à população
geral. Para nós é preocupante, numa sociedade de pouca gente, é
preocupante", declarou Nair da Mata.
Segundo a responsável, atualmente, apenas homens, entre
os 19 e os 60 anos, estão a cumprir prisão por crimes sexuais, entre os
quais condenados com pena máxima de 25 anos de prisão.
Há também casos de pais que abusaram sexualmente das
próprias filhas, tendo, inclusive, engravidado as crianças.
"É uma questão que precisa ser trabalhada e discutida,
porque a questão do abuso é uma questão muito mais profunda do que se imagina
[...] toda a gente deve trabalhar nesse sentido, de haver um estudo para
percebermos o porquê, o que está a acontecer", defendeu Nair da Mata.
A socióloga admitiu que as questões culturais também podem
estar nas motivações destes crimes, sublinhando que, antigamente, era
prática no arquipélago os abusadores negociarem e
oferecerem benesses às famílias das crianças para evitar processos
judicias nos casos de abuso ou violações.
Por outro lado, apontou que o aumento dos casos pode
estar associado às alterações legislativas que vieram a tornar os crimes
sexuais como crimes públicos, permitindo que sejam denunciados por qualquer
pessoa.
A diretora dos SPRS assegurou que a instituição "tem
feito a sua parte", estando dotada de recursos humanos, nomeadamente,
cinco psicólogos que atuam em várias áreas de reinserção social, mas considerou
os crimes sexuais como uma temática nova para estes profissionais.
Segundo dados do Ministério Público fornecidos à Lusa, dos
704 processos que deram entrada na instituição em 2024, 174 foram por crimes de
abuso sexual e 55 de atos sexuais com adolescentes.
Naquele ano, foram deduzidas 17 acusações por crimes de
abuso sexual e duas por crimes de atos sexuais com adolescentes.
Desde janeiro, o Ministério Público anunciou a prisão
preventiva de mais de uma dezena de arguidos por crimes sexuais, incluindo o
coordenador da Polícia Judiciária na ilha do Príncipe.
O primeiro-ministro são-tomense, Américo Ramos, visitou hoje
os SPRS e considerou que a problemática de abuso sexual de menores exige o
envolvimento de todas as estruturas políticas e sociais do país.
"Esta é uma questão da Nação e nós estamos a trabalhar
em conjunto no sentido de ver como é que nós debelamos isso", declarou
Américo Ramos.
Lusa/Fim
