Os analistas da ONU Comércio e Desenvolvimento dizem que o
panorama económico das três maiores economias do continente africano apresenta
traços mistos de recuperação e desafios.
O departamento de Comércio e Desenvolvimento das Nações
Unidas (ONU) prevê que as economias africanas acelerem o crescimento económico,
passando de uma expansão de 2,9% do PIB, em 2024, para 3,6%, este ano.
"Em África, o crescimento deverá aumentar para 3,6%
este ano; o panorama económico das três maiores economias, que em conjunto
valem quase metade da produção económica agregada, apresenta traços mistos de
recuperação e desafios", escrevem os analistas da ONU Comércio e
Desenvolvimento (antiga UNCTAD) no relatório sobre o crescimento da economia
mundial.
A nível global, prevê-se um abrandamento para 2,3%, o que
compara com os 2,8% registados em 2024. Olhando apenas para a África
subsaariana, a ONU prevê uma aceleração, de 4% em 2024, para 4,3% este ano, mas
ainda assim insuficiente para melhorar a qualidade de vida dos africanos desta
região que integra a maioria dos países lusófonos.
"De um modo geral, à medida que o mundo enfrenta crises
em cascata, África continua na linha da frente da exposição e o ritmo
moderado da expansão económica observado em todo o continente, com exceção de
alguns pontos positivos, continua a ser insuficiente para criar um número
suficiente de bons empregos, em especial para os seus jovens, e, de um modo
mais geral, para alcançar progressos significativos no sentido dos Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável", aponta-se ainda no relatório.
No mais recente relatório especificamente sobre África,
publicado pela Comissão Económica das Nações Unidas para África (UNECA), no
final de março, os analistas escreviam que um dos principais problemas da
região era o elevado montante de dívida pública, que retirava espaço para
investimentos nas infraestruturas que permitem o desenvolvimento das economias.
A dívida pública em África deverá descer de 62,5%, no ano
passado, para 62,1% este ano, depois de em 2023 ter chegado dos 67,3%, mas esta
queda não chega para eliminar a crise da dívida que muitos países da região
enfrentam, diz a ONU.
"Apesar da ligeira queda, os níveis de dívida ainda
estão elevados e são comparáveis aos valores registados antes das iniciativas
de alívio da dívida em meados dos anos 2000", lê-se no Relatório Económico
sobre África (REA), divulgado na sequência da conferência dos ministros das
Finanças africanos, que decorreu em março na capital da Etiópia, Adis Abeba.
No documento, os peritos da ONU escrevem que a política
orçamental está a voltar ao normal, mas alertam para "significativos
pagamentos de dívida este ano, com os desafios financeiros atuais a obrigarem
os países a reduzirem despesas públicas essenciais e a direcionarem recursos
para o serviço da dívida", o que perpetua o ciclo de endividamento.
Os custos de servir a dívida deverão ter chegado a 163 mil
milhões de dólares, mais 12% do que no ano anterior, diz a UNECA, salientando
que, apesar de 2024 dever ter marcado o ano de pagamentos mais altos, "os
valores vão continuar bem acima dos níveis anteriores à pandemia de covid-19 a
curto e médio prazo".
A instituição refere ainda "as vulnerabilidades a
permanecerem elevadas, demonstradas pelas elevadas taxas de juro, volatilidade
das finanças públicas, acumulação de atrasos nos pagamentos e um prolongado
impacto dos choques externos".
A região do norte de África lidera o índice dos maiores
rácios de dívida face ao PIB, com 76%, seguida da África Austral, onde está
Angola e Moçambique, com 70,7%, sendo a África Oriental a região menos
endividada, com uma dívida pública que está nos 39,2% do PIB.
Lusa
